Há amizades que nascem do convívio, outras do interesse, e algumas - as mais sólidas - florescem no húmus fértil do terror.
É curioso ver como a História, essa velha senhora de memória curta, transforma inimigos mortais em parceiros estratégicos, e como a palavra “terrorista” muda de significado consoante o preço do barril de petróleo ou o alinhamento de umas fronteiras convenientes.
O céu de Nova Iorque, outrora tingido pelo fumo das torres, agora serve de pano de fundo para os sorrisos diplomáticos. Não há cinzas, há bandeiras; não há destroços, há comunicados de imprensa. O que antes era “inimigo número um” é hoje “aliado imprescindível”. Afinal, a democracia, essa mascote de feira, tem sempre um novo dono disposto a pagar-lhe a ração.
E o que dizer dos povos? Ah, esses são facilmente deslocáveis - peças num tabuleiro que só serve para justificar contratos de reconstrução, fornecimentos de armas e mais umas quantas dívidas externas. O sofrimento humano é a matéria-prima mais barata e mais abundante do mercado global.
E tudo em nome de quê? Da “liberdade”! Daquela liberdade tão útil que cabe em slogans de campanha e em discursos de teleponto. A mesma liberdade que é distribuída em bombas, financiada em pacotes de ajuda e celebrada em cocktails de receção. Uma liberdade que nunca chega às aldeias destruídas, mas que ilumina bem as salas de conferências com ar condicionado.
O terrorismo, afinal, não é um fim: é uma ferramenta.
Hoje serve para assustar, amanhã para negociar, e depois de amanhã para justificar mais uma cimeira de “cooperação internacional”.
No fundo, o mundo é simples:
amigos, amigos, terrorismo à parte.
João Gomes – In Facebook