Dois anos se passaram desde que “israel” lançou sua guerra genocida contra Gaza, deixando um rastro de destruição sem precedentes: cidades arrasadas, hospitais e escolas da ONU em ruínas e mais de trezentas mil vidas palestinas apagadas. Mas, apesar do massacre planejado para esmagar a dignidade de um povo, a resistência segue firme, transformando cada mártir em símbolo de perseverança.
Esse enfrentamento não é terrorismo. É a defesa legítima da vida, da terra e da existência contra uma ocupação colonial que já dura 77 anos. O enquadramento do Hamas como “grupo terrorista” e fortemente propalado pela mídia hegemônica, é um artifício político imoral criado por “israel” e seus aliados ocidentais, sem fundamento jurídico.
O direito internacional, a ONU, os BRICS, o Brasil e tratados reconhecem a legitimidade da luta de um povo contra a ocupação estrangeira e a opressão colonial. A resistência palestina, armada ou não, é expressão de soberania e de autodeterminação.
Nos dois últimos anos, “israel” despejou sobre Gaza uma violência militar sem paralelo: cerca de 300 toneladas de explosivos lançados por quilômetro quadrado desde outubro de 2023 — vinte vezes mais do que os EUA utilizaram no Vietnã. Nada disso, porém, quebrou a determinação de um povo que luta para existir.
O exército que se dizia “invencível” não derrotou o Hamas, não silenciou as forças da resistência e tampouco conquistou vitória política ou moral. O que alcançou foi apenas morte, destruição e o aprofundamento de sua própria crise interna. A força militar não gera estabilidade nem legitimidade, apenas expõe o fracasso do regime sionista.
A guerra covarde que derrama sangue de crianças, mulheres e civis, que aprofunda o bloqueio de alimentos e cuidados médicos, não será suficiente para atingir os objetivos do ocupante. Até os próprios estrategistas de “israel” reconhecem a verdade de que jamais vencerão o Hamas e as outras forças da resistência palestina, o Hezbollah ou o Eixo da Resistência. O que resta ao agressor é destruição e, com ela, a prova viva de sua derrota moral e histórica.
Na segunda-feira, 29 de setembro de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou um teatral “plano de paz” de 20 pontos para encerrar a guerra na Faixa de Gaza. Um plano que parece ter sido escrito pelas quatro mãos de Trump e Netanyahu. Uma proposta sionista hostil aos direitos palestinos, que enterra de vez a solução de dois Estados e consolida o controle colonial de “israel” sobre a Palestina. Mais do que reconstrução, propõe tutela; mais do que justiça, oferece impunidade ao genocídio em curso.
Exigir o desarmamento da Resistência sem responsabilizar “israel” pelos massacres — mais de 328 mil mortos em dois anos, segundo a revista científica The Lancet — e pela destruição total de Gaza, é pedir que as vítimas entreguem sua única defesa em troca de promessas vazias. Durante 77 anos de ocupação sionista e 18 anos de bloqueio da Faixa de Gaza, o povo palestino tem sido privado de seus direitos fundamentais. Não haverá cessar-fogo verdadeiro se o preço for a renúncia à legítima autodefesa.
O Hamas respondeu ao plano do presidente dos EUA, Donald Trump, para interromper a agressão israelense em Gaza com uma postura que combinou responsabilidade e defesa patriótica. Após amplas consultas internas e com diversas forças e facções palestinas, o movimento deixou claro que nenhuma administração de transição deve ser formada sem liderança palestina.
A posição do Hamas reflete o compromisso com a proteção dos direitos fundamentais do povo palestino e a rejeição de qualquer interferência externa. O movimento enfatiza que as negociações devem resultar na retirada completa da ocupação de Gaza, na proteção dos moradores contra deslocamentos forçados e na garantia de que os palestinos administrem seus próprios assuntos políticos, de segurança e de subsistência de forma soberana.
Dois anos de genocídio não destruíram Gaza. Ao contrário, fortaleceram sua voz e ecoaram no mundo a denúncia de um massacre inaceitável. Cada lar destruído é prova viva de injustiça; cada criança assassinada dá origem a novas vozes de resistência. “israel” pode impor batalhas militares, mas perde a guerra política e moral. O mundo precisa escolher entre ser cúmplice do massacre de um povo originário ou unir-se à corrente de solidariedade que mantém acesa a chama da libertação.
Por isso, qualquer plano que omita ou marginalize as forças da Resistência Palestina estará condenado ao fracasso. Não será percebido como paz, mas como tentativa de liquidar a causa palestina sob uma máscara de diplomacia. Um cessar-fogo verdadeiro só será possível se respeitar integralmente os direitos do povo palestino, garantidos por décadas de luta e sancionados pelo direito internacional: o direito à terra, à autodeterminação e à libertação da ocupação.
Os combatentes da resistência palestina e o povo paciente da Faixa de Gaza continuarão sua batalha pela independência, pela dignidade e pela libertação da ocupação sionista, defendendo seu direito legítimo à autodeterminação. Suas ações são exemplos de bravura, resiliência e heroísmo frente à máquina de morte israelense. A Resistência palestina seguirá o caminho traçado pelos mártires, até que a Palestina seja libertada, do Rio ao Mar.
Autor: Sayid Marcos Tenório - Historiador e Especialista em Relações Internacionais. É fundador e vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). Autor dos livros Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência (2. Ed. Anita Garibaldi/Ibraspal, 2022); e Imalês: Fragmentos da presença de muçulmanos nas revoltas contra a escravidão no Brasil (1. Ed. Appris, 2022).