Os Estados Unidos estão abdicando de controlar a Rússia e, cada vez mais, acredito que também a China. Bloqueados pela China nas suas importações de samário, um elemento raro essencial para a aeronáutica militar, os Estados Unidos já não podem sonhar em confrontar militarmente a China. O resto do mundo – Índia, Brasil, mundo árabe, África – está tirando partido disso e se afastando. Mas os Estados Unidos estão se voltando vigorosamente contra seus “aliados” europeus e do Leste Asiático em um esforço final de superexploração e, é preciso admitir, por puro rancor. Para escapar da humilhação, para esconder sua fraqueza do mundo e de si mesmos, eles estão punindo a Europa. O Império está se devorando. Esse é o significado das tarifas e dos investimentos forçados impostos por Trump aos europeus, que se tornaram súditos coloniais em um império em declínio, em vez de parceiros. A era das democracias liberais solidárias chegou ao fim.
O trumpismo é o “conservadorismo populista branco”. O que está emergindo no Ocidente não é a solidariedade entre conservadores populistas, mas sim o colapso da solidariedade interna. A raiva resultante da derrota está levando cada país a virar-se contra os mais fracos para descarregar o seu ressentimento. Os Estados Unidos estão se voltando contra a Europa e o Japão. A França está reativando seu conflito com a Argélia, sua antiga colônia. Não há dúvida de que a Alemanha, que, de Scholz a Merz, concordou em obedecer aos Estados Unidos, voltará sua humilhação contra seus parceiros europeus mais fracos. Meu próprio país, a França, me parece ser o mais ameaçado.
Autor: Emmanuel Todd
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