A imagem é perturbadora e simbólica: um ministro israelense linha-dura entra na cela de um prisioneiro palestino com o objetivo explícito de intimidá-lo. Itamar Ben Gvir, Ministro da Segurança Nacional, visitou pessoalmente Marwan Barghouti — figura emblemática e unificadora da comunidade palestina — e proferiu palavras que muitos entenderam como uma ameaça direta. A cena não é apenas sensacionalista: foi transmitida em vídeo e gerou condenação e alarme em ambos os lados da fronteira.
Ameaças não ocorrem no vácuo. Nas últimas semanas, surgiram relatos de maus-tratos e agressões contra Barghouti na prisão; sua própria família expressou temor por sua vida após relatos de espancamentos que supostamente causaram fraturas e perda de consciência. Esse contexto transforma qualquer gesto de desafio público em um gesto de escalada política — não apenas uma oportunidade fotográfica de campanha — e explica a indignação da opinião pública palestina e de observadores internacionais.
Diante da intimidação, a resposta de Barghouti personifica uma tradição de resistência: "Somos lutadores por nossa liberdade". É uma frase curta e contundente que resume uma história de décadas de lutas políticas e simbolismo nacional. Não é um apelo à vingança pessoal, mas a reafirmação de uma legitimidade que não pode ser comprada pela força ou apagada pelo assédio. Essa dignidade, mesmo em confinamento, é o que preocupa aqueles que desejam silenciá-lo.
A política israelense atual, marcada pela normalização de posições ultranacionalistas em cargos ministeriais, transforma cada gesto simbólico em uma ferramenta de pressão. Quando um alto funcionário entra na cela de um preso político e profere palavras de eliminação ou humilhação, ele está enviando uma mensagem mais ampla: aos prisioneiros, aos líderes políticos palestinos e à comunidade internacional. Essa mensagem corrói a possibilidade de negociação e alimenta a polarização regional.
A UPAL denuncia firmemente ameaças e práticas que desumanizam adversários políticos. Condenar a violência não significa renunciar à luta política; pelo contrário, exige a proteção do direito à vida, à integridade física e à dignidade humana daqueles que, mesmo presos, representam movimentos políticos e as aspirações de seu povo. A exclusão de Barghouti das recentes negociações e listas de soltura também demonstra um cálculo político que busca neutralizar a liderança e a esperança.
Finalmente, alertamos que a intimidação não extingue ideias. Ameaças podem silenciar vozes às vezes, mas não apagam as causas: a busca por autodeterminação, a demanda por justiça e o anseio por liberdade persistem. Marwan Barghouti, mesmo atrás das grades, repete hoje o que gerações têm afirmado: a luta pela liberdade não se negocia com humilhação; ela se sustenta com dignidade e memória. A UPAL estará ao lado dessa dignidade.
União Palestina da América Latina - UPAL
19 de outubro de 2025