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E tudo a UE aceitou
Publicado em 22/10/2025 08:00
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Há quem diga que a Europa é um velho continente cansado. Eu diria antes que é um continente crédulo - e de uma flexibilidade moral invejável. Depois de anos a marchar ao som da banda da NATO, entre discursos inflamados e bandeiras azuis estreladas, eis que, subitamente, a proposta de paz vem de Trump — sim, o mesmo que Bruxelas tratou como bufão populista, ameaça à democracia e, em certos jantares de comissários, quase como um bárbaro à porta do império.

 

Mas agora, com Kiev e os seus aliados a aceitar que a linha atual da frente seja o ponto de partida das negociações, a retórica heroica da União Europeia soçobrou como um balão furado. Afinal, não era a Ucrânia “a muralha da Europa”? Não estava Putin prestes a marchar sobre Varsóvia, Paris e quem sabe até Bruxelas (onde, ironicamente, já reina a confusão há muito tempo)?.

 

Durante dois anos, a Comissão Europeia transformou a guerra num drama moral e identitário, onde quem pedisse diálogo era cúmplice do Kremlin, e quem falasse de paz era acusado de ingenuidade geopolítica. Agora, confrontada com a realidade militar - e com Trump, o novo maestro em Washington, a Europa engole em seco, muda o discurso e... aceita.

 

Aceita que a Ucrânia não vai reconquistar Donetsk. Aceita que a NATO não manda mais na agenda global. Aceita que os seus planos de “autonomia estratégica até 2030” soam a promessa de ginásio: boa intenção, zero execução.

 

E tudo, claro, com ar sério e institucional, como se fosse exatamente isto que tinham planeado desde o início. A arte europeia da incoerência diplomática está viva e recomenda-se.

 

Entretanto, a retórica do “inimigo às portas” serviu bem: justificou aumentos orçamentais para a defesa, contratos milionários com as indústrias de armamento e o adiamento conveniente de debates sobre pobreza, energia e desigualdade. Agora que a paz volta à mesa - não pela mão da Europa, mas de Trump, em Bruxelas instala-se o silêncio constrangido de quem percebeu tarde demais que andou a fazer política externa com hashtags.

 

No fundo, a história é simples: a UE não conduz, segue. Segue Washington quando é democrata, segue Trump quando regressa.

Segue a Ucrânia enquanto convém, e deixa-a seguir sozinha quando a realidade militar aperta. E quando tudo muda, a Europa faz o que melhor sabe fazer: aceita. Aceita com gravidade, com comunicados oficiais, com um ar de quem sempre teve razão. Aceita, porque recusar exigiria pensar por conta própria - e isso, convenhamos, não cabe nos tratados.

 

E ninguém se demite? Não: as mordomias salariais são muito boas e tapam todas as vergonhas...

 

 

Autor: João Gomes in Facebook




 

 

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