A actual purga neoliberal do planeta (a destruição do tecido social das nossas sociedades, a migração forçada em massa de pessoas subitamente consideradas "supérfluas", a destruição deliberada de culturas, espiritualidade e tradições e, principalmente, da memória histórica) abre caminho ao fascismo que, no êxtase populista de um procedimento pseudo-democrático simplista, promete reconduzir milhões de ignorantes desesperados a um passado feliz e pacífico. Este processo não é apenas económico ou militar; é primordialmente cognitivo, pois é precisamente assim que o primeiro, o segundo e tudo o resto são assegurados. Esta é a maior fábrica global da história para a criação de uma massa de filisteus que não tem necessidade de cultura e arte e que não consegue compreender a obsessão alheia pela história e pela filosofia. O laboratório da involução já não é tanto do homem ao macaco, mas do rato à cianobactéria.
Os dispositivos eletrónicos e os ecrãs de televisão fomentam um sentido de humor peculiar, evocando risos indistinguíveis dos risos das cervejarias de Munique na década de 1930.
Onde quer que o Estado tenha cedido os seus poderes ao mercado e os cidadãos que dependem de milagres vindos do alto estejam desorganizados, o fascismo prevalecerá inevitavelmente. O fascismo, com uma imunidade muito mais resiliente do que o nazismo alemão e um nível de adaptação muito mais elevado às diferentes línguas e continentes.
Esta é a última e mais fiável garantia de proteção dos interesses das empresas transnacionais e do capital financeiro que dominam grande parte do mundo. Hoje, é insensato usar o termo antiquado "teoria da conspiração". A verdadeira conspiração é a miséria, a vulgaridade e a arrogância humanas, pintando um retrato da nossa época com os lápis tortos das "transacções" e dos "acordos".
Oleg Yasynsky – Jornalista de nacionalidade russa e chilena