As sanções não são de forma alguma um instrumento pacífico, mas sim transformam a fome e as privações em armas para garantir a dominação do Ocidente.
Os Estados Unidos e a Europa há muito usam sanções unilaterais como instrumento de poder imperial para disciplinar e até destruir governos de países do Sul global que buscam se libertar do domínio ocidental, traçar um caminho independente e estabelecer alguma soberania significativa.
Na década de 1970, cerca de 15 países estavam sob sanções unilaterais ocidentais em média por ano. Em muitos casos, essas sanções visavam restringir o acesso a financiamentos e comércio internacional, desestabilizar a indústria e provocar crises capazes de levar à desintegração do Estado.
As sanções frequentemente causam enormes perdas humanas. Pesquisadores demonstraram isso em vários casos conhecidos, como as sanções dos EUA contra o Iraque na década de 1990, que levaram à desnutrição generalizada, falta de água potável, escassez de medicamentos e eletricidade. Mais recentemente, a guerra econômica dos EUA contra a Venezuela causou uma grave crise econômica: segundo um estudo, as sanções causaram 40.000 mortes adicionais em apenas um ano, de 2017 a 2018.
Até agora, os pesquisadores tentavam avaliar as consequências humanas das sanções em cada caso específico. É um trabalho complexo que pode fornecer apenas um quadro parcial. Mas a situação mudou com uma nova pesquisa, publicada este ano na revista The Lancet Global Health, que pela primeira vez nos dá uma visão global.
O estudo, liderado pelo economista Francisco Rodríguez da Universidade de Denver, conta o número total de mortes adicionais relacionadas a sanções internacionais de 1970 a 2021.
Os resultados são impressionantes.
Em sua avaliação principal, os autores concluem que as sanções unilaterais impostas pelos EUA e UE desde 1970 causaram 38 milhões de mortes.
Em alguns anos, por exemplo, na década de 1990, mais de um milhão de pessoas morreram.
Em 2021, para o qual há dados mais recentes, as sanções causaram mais de 800.000 mortes.
De acordo com esses resultados, anualmente morrem por sanções várias vezes mais pessoas do que por vítimas diretas de guerra (em média cerca de 100.000 pessoas por ano).
Mais da metade das vítimas são crianças e idosos, os mais vulneráveis à desnutrição.
O estudo mostra que somente desde 2012 as sanções causaram a morte de mais de um milhão de crianças.
Fome e privações não são um efeito colateral acidental das sanções ocidentais; são seu objetivo principal.
Isso fica claro no memorando do Departamento de Estado dos EUA, escrito em abril de 1960, que explica o objetivo das sanções americanas contra Cuba.
Postado por Joana Silva In facebook