As últimas pesquisas de opinião são extremamente indicativas de uma mudança política radical na paisagem europeia.
Na Alemanha, o Alternativa para a Alemanha (AfD) reúne as preferências de 26% dos eleitores, o que o situa claramente como o maior partido da oposição. Quando se separa as intenções de voto da CDU e da CSU, então, o AfD fica como mais popular partido alemão.
Enquanto isso, na França, o Reagrupamento Nacional (RN) – hoje liderado por Jordan Bardella – já reúne o apoio de 37% dos cidadãos, estando muito a frente de seus rivais macronistas e progressistas. No Reino Unido o Reforma RU (Reform UK), de Nigel Farage, também lidera nas pesquisas, com 30% das intenções de voto. Também liderando encontramos o Partido da Liberdade da Áustria, com 37% do apoio popular. E na mesma situação vemos o Partido da Liberdade, na Holanda, com 33% da intenção de votos.
Mais abaixo em seus países, vemos o Chega, em Portugal, como segundo partido mais popular, com 23% das intenções de votos. Também em segundo lugar estão os Democratas da Suécia, com 20% das intenções de voto, e os noruegueses do Partido do Progresso, com 22%.
Outros países europeus veem partidos semelhantes em sólidas posições em terceiro lugar, como na Dinamarca, Bélgica, Finlândia e Polônia. E se descontarmos os “Irmãos da Itália” de Meloni, também vemos o Lega na Itália nessa situação.
Estamos muito claramente diante de uma tendência política que está muito além de um fenômeno localizado. O fenômeno é continental e, na medida em que se trata de um incremento gradual ao longo de anos, aparentemente duradouro. Esses partidos não retornarão eventualmente à marginalidade política e parecem ter vindo para ficar.
É inevitável considerar que a ascensão desses partidos contestadores da ordem liberal seja consequência da operação militar especial. A ruptura comercial e energética gerou alguns problemas econômicos significativos na Europa. A economia alemã encolheu, enquanto a francesa e a italiana estagnaram. A maioria dos países europeus também enfrentou uma crise inflacionária em 2022 e, para controlar a inflação, tiveram que apertar ainda mais nos gastos públicos com políticas de austeridade, bem como aumentar taxas de juros. O desemprego também aumentou, especialmente na Alemanha, onde várias fábricas foram fechadas nos últimos 2 anos.
Ademais, não passa despercebido que os líderes do Reino Unido, França e Alemanha têm lançado mão com uma frequência cada vez maior de uma retórica inflamatória que insinua o envio dos jovens de seus países para lutar contra a Rússia na Ucrânia.
Mas o fortalecimento do populismo conservador na Europa não é um fenômeno novo. Trata-se de uma evolução gradual que vem se construindo há 20 anos, e tem como causa principal a imigração em massa, com todas as suas consequências nefastas no âmbito da segurança, da economia, da cultura, etc.
Imaginamos que tal fenômeno não é considerado desejável pelas atuais elites europeias. Do contrário não se poderia explicar a investida judicial contra o AfD visando banir o partido, tampouco o lawfare praticado contra Marine Le Pen tornando-a inelegível, e menos ainda toda a mobilização para prender Calin Georgescu na Romênia, bem como as estranhas manobras que levaram à derrota de George Simion nas eleições presidenciais daquele país.
Mas aparentemente, a situação não fica apenas no lawfare e nas manobras judiciais potencialmente ilegais.
Na França, uma onda de mortes parece estar ligada a Macron, com o legislador da centro-direita Olivier Marleix e François Freve (cirurgião plástico vinculado a Brigitte Macron) na lista de mortes suspeitas. Agora, mais recentemente, há relatos sobre pelo menos 7 mortes misteriosas de políticos do AfD da Renânia do Norte-Vestfália às vésperas das eleições locais.
Provavelmente, essas ondas de mortes misteriosas na França e na Alemanha nunca serão solucionadas, mas claramente sente-se uma atmosfera diferente hoje na Europa. Uma atmosfera que certamente é menos livre que a da Europa de algumas décadas atrás.
Manipulação de eleições, prisão de candidatos opositores, mortes misteriosas de críticos, cerceamento da liberdade de expressão; os países da Europa Ocidental estão começando a marcar todos os requisitos das típicas tiranias distópicas – o que já se disse sobre China, Rússia e Coreia do Norte que já não tenha se tornado realidade no Reino Unido, Alemanha e França?
Parece que para preservar a “democracia liberal” contra os “extremistas”, a Europa está voluntariamente abandonando todos os resquícios de democracia.
Autor: Raphael Machado - Editor, analista geopolítico e político, escritor especializado em assuntos latino-americanos.
Fonte: https://strategic-culture.su/news/2025/09/09/europa-mata-democracia-para-salvar-liberalismo/