O súbito aumento no reconhecimento do Estado da Palestina por vários países não pode ser analisado ingenuamente. É certamente um passo político significativo, um eco tardio da luta heroica do povo palestino, que há mais de sete décadas reivindica seu direito inalienável à autodeterminação. Mas por trás dessas declarações oficiais esconde-se uma manobra calculada: mais do que um compromisso genuíno com a liberdade e a justiça, elas parecem ser tentativas de salvar o projeto sionista do colapso moral e político.
A história é clara. A Palestina já foi reconhecida pela ONU em 2012 como um Estado observador. Inúmeros países, principalmente no Sul Global, o fazem há décadas. Por que então essa onda em meio ao genocídio televisionado em Gaza? A resposta é incômoda: o Ocidente percebe que o sionismo, seu descendente colonial, está passando pela crise mais profunda de sua existência. O regime israelense está sendo desafiado em todos os cantos do planeta, exposto como uma máquina genocida que viola sistematicamente o direito internacional.
O reconhecimento hoje não busca tanto reparar a injustiça histórica cometida contra a Palestina, mas sim estender uma tábua de salvação a um sistema em declínio. O sionismo teme sua extinção como ideologia política, e seus patrocinadores internacionais se apressam em criar a ilusão de que uma "solução de dois Estados" ainda é possível, quando todos sabemos que Israel a tornou inviável com assentamentos, anexações e apartheid.
O povo palestino não luta por migalhas diplomáticas, mas por seu direito de retornar às suas casas, viver em igualdade e decidir seu futuro sem a imposição de uma ideologia racista. Não aceitamos que o reconhecimento seja usado como cortina de fumaça enquanto o genocídio continua. Não aceitamos um "Estado Palestino" fragmentado, sem soberania real, enquanto a existência de um regime de apartheid é encoberto.
A única solução justa e duradoura é a construção de um Estado único, democrático e laico em toda a Palestina histórica, onde muçulmanos, cristãos e judeus coexistam sem privilégios coloniais ou supremacia racial.
Reconhecer a Palestina não deve ser um ato vazio para proteger o sionismo, mas o primeiro passo em direção a uma justiça abrangente: sanções contra os genocidas, o desmantelamento do apartheid e o retorno de todos os refugiados às suas terras.
O mundo deve escolher: ser cúmplice da extinção de um povo ou acompanhar o nascimento de uma Palestina livre, justa e democrática?
União Palestina da América Latina – UPAL
25 de setembro de 2025