Tony Blair entrou para a história em Março de 2003, quando, ao lado de Bush, Aznar e Durão Barroso se reuniu nos Açores para selar o apoio à invasão do Iraque. Na altura, a justificação assentava nas célebres “armas de destruição massiva” que nunca foram encontradas. O episódio não só mergulhou o Médio Oriente no caos, como hipotecou de forma irreversível a credibilidade internacional do então primeiro-ministro britânico.
Mesmo após a queda de Saddam Hussein, Blair manteve o rumo: defendeu as decisões tomadas, relativizou os erros de inteligência e só mais tarde admitiu “falhas” - sem nunca reconhecer a dimensão da tragédia que ajudou a desencadear. O desgaste político foi inevitável e, em 2007, abandonou Downing Street.
Mas a sua retirada não significou silêncio. Pelo contrário. Foi nomeado enviado especial do Quarteto para o Médio Oriente (EUA, UE, ONU e Rússia), um posto que deveria avançar negociações entre Israel e Palestina, mas que na prática pouco ou nada mudou. Para muitos palestinianos, Blair era visto como cúmplice da ocupação, não como mediador credível.
Em 2015, fundou o Tony Blair Institute for Global Change, um organismo que se apresenta como promotor de reformas e “boa governação”, mas que acumulou relações ambíguas com regimes acusados de violações de direitos humanos. Um instituto que, longe de reabilitar a imagem de Blair, reforçou a perceção de que a sua atividade pós-governo não passa de uma forma sofisticada de lobby e de manutenção de influência global.
É neste contexto que regressa hoje ao centro das atenções, apontado como eventual líder de uma “autoridade provisória” para gerir Gaza antes de o poder regressar à Autoridade Palestiniana. A proposta, apoiada por Washington, parece mais um balão de ensaio do que uma solução realista. Afinal, como confiar num político que construiu a sua herança sobre uma guerra ilegítima, que falhou como mediador e que desde então tem colaborado com governos de duvidosa reputação?
Se Gaza precisa de uma transição credível, dificilmente ela poderá passar pelas mãos de Tony Blair. A história já mostrou o preço da sua forma de fazer política: guerras justificadas por mentiras, promessas que escondem interesses e, no fim, populações que pagam o custo em sangue e sofrimento.
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