O que Lula disse na Itália, sobre o problema do Brasil ser com Netanyahu e não com Israel, merece atenção, pois expõe uma postura que ignora fatores estratégicos históricos e atuais nas relações bilaterais, além de confirmar o que eu disse sobre o interesse do mundo ocidental é culpar apenas Netanyahu e não o Estado de Israel.
Ao destacar que o Brasil sempre manteve boas relações com Israel, Lula busca justificar a sua política externa e suavizar críticas internacionais. Porém, essa visão simplista não contempla o histórico de ações israelitas que prejudicaram interesses soberanos brasileiros, como sabotagens direcionadas ao nosso programa nuclear e às exportações de tecnologia.
Essa declaração do Lula desconsidera o facto de que o Brasil continua exportando recursos que alimentam a máquina de guerra israelita. Petróleo, aço e insumos estratégicos enviados ao complexo militar israelita contribuem para operações bélicas em territórios ocupados, sem que haja restrições. A manutenção dessas exportações evidencia que o Estado brasileiro não apenas mantém relações comerciais com Israel, mas participa, ainda que indiretamente, do aperfeiçoamento da sua capacidade militar.
Lula, ao colocar toda a responsabilidade em Netanyahu, parece reduzir o debate à esfera política pessoal do primeiro-ministro israelita, enquanto a estrutura do Estado israelita e a sua máquina de guerra permanecem intactas. É uma simplificação conveniente, que protege os interesses económicos do Brasil no sector militar e energético, mas ignora que a pressão internacional visa, de fato, preservar o Estado israelita na sua configuração militar e legal, enquanto negocia mudanças políticas e territoriais no Estado palestino.
Essa narrativa oficial brasileira desvia o foco de questões mais profundas, como a ética das exportações militares e energéticas, minimizando também o impacto de ações externas históricas que prejudicaram o Brasil. A fala de Lula na Itália, ainda que diplomática, oculta a complexidade do relacionamento entre Brasil-Israel e favorece a continuidade da cooperação militar e energética, reduzindo a percepção crítica sobre como essas relações afetam os interesses estratégicos brasileiros.
Autor: Rhainer Fernandes in Facebook