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Paradoxo das cinzas
Publicado em 16/10/2025 19:58 • Atualizado 16/10/2025 21:46
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Por Jawdat Manna, desde Jerusalém

 

Contemplo Gaza como se fosse outra Berlim que se ergue de suas cinzas.
Na Alemanha, depois que a Segunda Guerra Mundial depôs suas armas, as mulheres saíram de entre os escombros carregando pedras com as mãos ensanguentadas para iniciarem a jornada de reconstrução do zero.

 

As cidades alemãs estavam destruídas, os homens, nos cemitérios ou cativos, e o país crivado de perdas; ainda assim, a vida recuperou seu pulso pelas mãos das mulheres que assumiram, por sua nação, o encargo de se reerguer.

 

E hoje, oito décadas depois, a história se repete em Gaza. As mulheres palestinas, ao lado dos homens que sobreviveram à guerra de extermínio israelense contra o povo palestino, levantam-se debaixo dos escombros, recolhem o que restou de suas casas, de seus filhos e de seus sonhos, e recomeçam.

 

Embora a guerra ainda não tenha terminado e o céu continue a chover fogo. Oitenta por cento da Faixa está destruída, mas nos olhos das mulheres há uma luz que não se apaga e uma determinação que beira o milagre. Já na Cisjordânia, inclusive em Jerusalém, o terror dos colonos sionistas segue compondo o pavor que paira sobre as aldeias, cidades e campos de refugiados palestinos, que aguardam ataques dos colonos a qualquer momento.

 

Entretanto, a dura ironia histórica reside na natureza das duas guerras. A guerra contra a Alemanha foi uma guerra contra o nazismo que invadiu a Europa e a União Soviética; já a guerra contra a Palestina é travada por Israel sionista, que alega representar as vítimas do nazismo, mas pratica contra os palestinos o que se assemelha a seus crimes.

 

Das vítimas de ontem aos algozes de hoje, os papéis se invertem e a dor permanece a mesma. E quem sustenta a guerra de extermínio israelense são os mesmos países que travaram a guerra contra a Alemanha.

 

Gaza hoje põe à prova a consciência do mundo como a Europa a pôs há oito décadas.

 

E, diante de toda esta devastação, a mulher palestina, à semelhança de sua contraparte alemã de outrora, permanece símbolo da sobrevivência humana em tempos de aniquilação, e a semente de esperança que nem o cerco nem o fogo conseguem queimar.

 

Edição de Texto: Alexandre Rocha

 

Jawdat Maná, é Jornalista e Diretor Executivo da Casa da Memória – Rede de Museus de Jerusalém, reconhecida como a instituição mais ativa no mundo árabe trabalhando por Jerusalém pelos Fóruns de Intelectuais de Jerusalém.

 

 

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