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“Gripen E” na Ucrânia – A propaganda de guerra e a crença na própria mentira
Publicado em 24/10/2025 18:10
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A ideia de que a Ucrânia está prestes a receber dezenas de caças Gripen suecos virou quase um mantra nas redes sociais e em certos círculos midiáticos, como se o acordo já estivesse selado e os aviões estivessem prontos para descolar rumo ao leste europeu.

 

No entanto, essa expectativa ignora deliberadamente dois fatores determinantes: a real capacidade de produção da Saab e a situação financeira extremamente frágil da Ucrânia, que depende quase exclusivamente de doações internacionais para manter sua defesa.

 

Embora tenha sido assinada uma carta de intenções para a aquisição de até 150 jatos Gripen E, isso está longe de representar um compromisso concreto ou viável no curto prazo. Aqui na Suécia, ninguém levou isso a sério.

 

A imprensa sueca, por exemplo, tem sido bem mais cautelosa — e realista. Publicações locais destacam que, mesmo em um cenário ideal, o primeiro Gripen E recém-produzido só poderia ser entregue à Ucrânia daqui a cerca de três anos.

 

E isso pressupõe que “absolutamente nada dê errado”, algo quase impossível em um contexto de guerra, pressão industrial e limitações logísticas. Inclusive a superação das restrições impostas pela China na disputa das terras raras e os chips, indispensáveis para este tipo de produção.

 

Além disso, o cronograma total para entregar os 100 a 150 aviões se estende por 10 a 15 anos, o que coloca em xeque qualquer narrativa de que esses caças vão mudar o curso do conflito nos próximos meses ou até nos próximos dois anos. A pergunta para uma imprensa séria seria: haverá Ucrânia em 10 ou 15 anos?

 

Outro ponto frequentemente ignorado é o custo astronômico da operação. Cada Gripen E pode custar em torno de US$ 85 milhões, sem contar infraestrutura, treinamento, manutenção e munição. Quem vai pagar a conta?

 

Multiplicando isso por centenas de unidades, o valor total se torna uma “dor de cabeça cada vez maior para os apoiadores da Ucrânia” — como bem apontou a própria imprensa sueca. O efeito bumerangue das sanções praticamente sepulta as esperanças em torno desses caças.

 

Tudo isso é agravado por este ser um momento em que até os principais aliados europeus e os EUA enfrentam resistência interna para manter o fluxo de ajuda, bancar uma frota inteira de caças de última geração parece mais um desejo do que um plano factível.

 

Nas redes sociais, críticos têm apontado que a divulgação exagerada do acordo serve mais como vitrine política do que como estratégia militar realista. Enquanto Zelenskyy é fotografado no cockpit de um Gripen e fala em “melhor jato para nós”, especialistas lembram que a Ucrânia nem sequer tem as bases, os radares ou o sistema de defesa aérea integrado necessário para operar efetivamente uma frota tão avançada.

 

A Saab e o governo sueco, por sua vez, tratam o assunto com prudência: chamam o movimento de “primeiro passo” em uma “jornada longa”, evitando criar falsas esperanças. Por isso, afirmo que é fake news afirmar qualquer outra versão em nome do governo sueco.

 

No fundo, o que se vê é um abismo entre a narrativa otimista — alimentada por simbolismos e declarações de intenção — e a dura realidade industrial, financeira e logística. O caminho para que o Gripen defenda as cidades ucranianas não é apenas longo: é incerto, caro e dependente de uma estabilidade geopolítica que simplesmente não existe hoje.

 

Até lá, a Ucrânia continuará contando com o que tem — e com o que seus aliados conseguem entregar de forma prática, não apenas prometer em comunicados. A propaganda é uma importante arma de guerra, mas funciona somente se quem a utiliza não acredita nela.

 

 

Autor: Wellington Kalazans

 

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https://x.com/wcalasanssuecia/status/1981267197876896112

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