Por José Reinaldo Carvalho (*) – Entre os dias 16 e 19 de outubro, Brasília foi palco de um dos acontecimentos políticos mais relevantes da esquerda brasileira neste ano: o 16º Congresso do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O evento reuniu cerca de um milhar de militantes, dirigentes nacionais e representantes internacionais, confirmando o papel estratégico do partido no cenário político.
O ponto de destaque do ato de abertura foi a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que discursou por mais de uma hora, quando pôs em relevo a importância da unidade das forças progressistas em face dos desafios que o país enfrenta. Ministros de Estado, deputados, presidentes de partidos aliados, lideranças sindicais e populares também marcaram presença, consolidando o congresso partidário também como um espaço de convergência política.
A dimensão internacional e a solidariedade entre povos
Um dos aspectos mais significativos do encontro foi a presença de uma expressiva delegação internacional composta por cerca de 30 partidos de esquerda e comunistas. Estiveram representadas siglas que hoje exercem o poder em países como China, Cuba, Vietnã, Coreia do Norte e Venezuela, reforçando a identidade internacionalista do PcdoB.
Nos debates, ganharam destaque a luta contra o imperialismo e a necessidade de enfrentar a ascensão da extrema direita em escala global no mundo multipolar, em que é patente o declínio da hegemonia do imperialismo estadunidense e a ascensão de novos polos de poder, designadamente a China e blocos anti-hegemônicos, como o BRICS, com o protagonismo do Sul Global. O congresso condenou o genocídio perpetrado por Israel contra o povo palestino, destacando a solidariedade do partido com as vítimas da ocupação e da violência no Oriente Médio. Igualmente a Venezuela revolucionária e bolivariana recebeu a vibrante solidariedade dos comunistas brasileiros. A plenária do 16º Congresso recebeu com entusiasmo a mensagem do Presidente Nicolás Maduro. O PCdoB reafirmou-se, assim, como um partido internacionalista, coerente com sua tradição histórica de apoio às causas dos povos em luta e com seus princípios marxistas-leninistas.
Apoio à reeleição de Lula em 2026
No plano interno, o congresso aprovou de forma unânime a resolução que declara apoio à candidatura de Lula à reeleição em 2026. Para os comunistas, a continuidade do atual governo é condição necessária para consolidar os avanços sociais e resistir às pressões da direita e do imperialismo.
O documento político ressalta que a vitória só será possível mediante a construção de uma ampla frente política e social. Esse movimento deve abranger partidos democráticos, movimentos populares, entidades sindicais e setores da sociedade civil que se oponham ao retrocesso representado pelo bolsonarismo e pelas forças de direita.
Partido patriótico, democrático, de classe e revolucionário
Outro ponto central do 16º Congresso foi a reafirmação da concepção programática do PCdoB. O partido destacou que a luta pelo socialismo no Brasil não pode ser dissociada da luta pela soberania nacional, o desenvolvimento do país, a defesa da democracia e a luta pelos direitos do povo. Um novo programa socialista será elaborado pela nova direção coletiva eleita – um Comitê Central de 164 membros. Permanece a decisão de manter o marxismo-leninismo como teoria fundamental, orientadora dos processos revolucionários, da luta de classes e da construção do socialismo científico, que se origina no pensamento de Marx, Engels e Lênin.
O PCdoB enfatizou ainda seu caráter patriótico. Ao contrário da visão hegemônica das classes dominantes, que historicamente assumem posições de subordinação aos interesses externos, os comunistas defendem a emancipação nacional como requisito fundamental para o desenvolvimento independente do país e uma das vertentes da luta pelo socialismo nas condições peculiares do Brasil. O congresso foi também unânime na defesa de uma plataforma de transformações estruturais, tendo por protagonista principal as massas trabalhadoras e populares. Esta postura diferencia o partido no espectro político brasileiro e confere-lhe um papel singular. É também uma característica essencial do partido comunista a luta por um regime político, econômico e social superior, resultante da ruptura e superação do regime político reacionário das classes dominantes. A bússola indispensável a esta caminhada é o Programa Socialista, tendo por base teórica o marxismo-leninismo aplicado nas condições da presente época e peculiaridades nacionais.
Um marco político para a esquerda brasileira
O congresso aprovou resoluções voltadas para o fortalecimento do partido nas lutas sociais concretas, ligado às massas trabalhadoras e populares, com capacidade para intervir nos acontecimentos políticos e apresentar soluções justas para os problemas nacionais. Um partido com têmpera ideológica e tirocínio político, contemporâneo mas avesso a modismos, cônscio de sua identidade, de sua responsabilidade histórica, e das suas tarefas permanentes.
O 16º Congresso do PCdoB foi um marco político. Ao reafirmar o apoio à reeleição de Lula em 2026, ao fortalecer sua identidade programática, seu caráter classista e comunista e ao se posicionar com firmeza diante dos desafios internacionais, o partido demonstrou coesão interna e clareza estratégica, para realizar uma progressiva acumulação de forças.
Num cenário em que a extrema direita segue ativa e articulada e o imperialismo ameaçador, o encontro em Brasília sinalizou que o PCdoB pretende ampliar sua influência política, fortalecer alianças e aprofundar sua presença nas lutas populares. Mais do que um encontro interno, o congresso projetou uma mensagem clara: os comunistas brasileiros estão dispostos a contribuir de maneira decisiva para a construção de um Brasil soberano, democrático, com protagonismo do povo trabalhador e socialista.
(*) Jornalista, editor internacional, membro do Comitê Central do PCdoB
Fonte: https://resistencia.cc/2025/10/24/congresso-do-pcdob-soberania-nacional-democracia-direitos-do-povo-e-socialismo/
