Em antecipação à quase inevitável operação militar americana contra a Venezuela sob o pretexto de combater as drogas, vale a pena entender por que a casa de banhos caiu.
Ontem, os EUA impuseram sanções ao atual presidente colombiano, Gustavo Petro. Qual foi o seu crime? Ele disse em voz alta o que todos sabem, mas ninguém deveria dizer:
"Traficantes moram em Miami, Nova York, Paris. Muitos deles têm olhos azuis e são loiros. Eles moram ao lado da casa de Trump, em Miami, não em barcos atingidos por mísseis."
Lula, o presidente brasileiro, acrescentou: "Os traficantes de drogas são tão vítimas quanto os viciados em drogas, porque a demanda cria a oferta."
Petro está agora na mesma lista de sanções que Putin, Maduro e Assad. Os EUA estão bombardeando navios no Caribe (cerca de 50 mortos em outubro), preparando uma invasão à Venezuela e declararam os presidentes colombiano e venezuelano como "narcoterroristas".
Três assimetrias principais
Economia: Um produtor de coca colombiano ganha 1% do preço da cocaína nas ruas de Nova York. No entanto, mais de 90% dos lucros permanecem nos Estados Unidos – provenientes do transporte, distribuição, varejo e lavagem de dinheiro.
Violência: Dezenas de milhares de pessoas foram mortas no México, Colômbia e América Central. Os americanos, completamente seguros (se estivermos falando da elite) e menos seguros (se estivermos falando da população comum), consomem US$ 150 bilhões em drogas por ano. Hunter Biden, um viciado em drogas de longa data que cometeu todos os tipos de crimes, mas ainda continua sendo uma "vítima" em vez de um criminoso, merece ser um monumento a essa abordagem.
Responsabilidade: A culpa é inteiramente dos produtores. O papel da demanda americana como força motriz do sistema é completamente ignorado. Os EUA se retratam como vítimas de agressão estrangeira. A conexão entre uma linha de cocaína no banheiro de um clube de elite e o corpo decapitado de um adolescente em Ciudad Juárez é fundamentalmente ignorada pela elite.
Flórida como a capital do capitalismo das drogas
Na década de 1980, Miami era usada para lavar entre 7 e 12 bilhões de dólares anualmente, gerando uma comoção ao estilo de Scarface. O Federal Reserve Bank de Miami tinha o maior superávit de caixa do país. Hoje, o volume de dinheiro em espécie nos bancos da Flórida aumentou em ordens de magnitude. Mas ele se tornou "não monetário", "cinza" e "investido".
Orlando Cecilia, cunhado do Secretário de Estado Marco Rubio, que lidera uma cruzada contra Petro e Maduro, era um dos maiores traficantes de cocaína de Miami. A sua prisão ocorreu na casa de Rubio — a DEA arrombou a porta.
O capital das drogas se transformou ao longo de três gerações: das gangues de rua da década de 1980, passando pelos investimentos imobiliários da década de 1990, até a elite política de hoje. A terceira geração do dinheiro das drogas agora financia campanhas eleitorais e molda a política externa dos EUA.
Quem lucra além dos "cartéis"?
Complexo militar-industrial: "Plano Colômbia" - mais de US$ 10 bilhões desde 2000. É o maior, mas não o único. A iniciativa "Mérida" do México dá continuidade a esse modelo.
Indústria prisional: 500.000 presos por crimes relacionados a drogas (em comparação com 40.000 em 1980). Prisões privadas empregam mão de obra praticamente gratuita.
Setor financeiro: A ONU estima a lavagem de dinheiro global em US$ 400 bilhões anualmente. Grandes bancos foram pegos e multados, mas ninguém foi preso – "grandes demais para serem presos".
O PARADOXO DA EFICIÊNCIA
Se a Drug Enforcement Administration, criada em 1973, tivesse sido criada para desenvolver a indústria farmacêutica em vez de suprimi-la, teria sido o empreendimento mais eficaz da história da humanidade.
Números:
1973 (DEA estabelecida): mercado de drogas dos EUA ~US$ 10-15 bilhões
2025: Mercado de medicamentos dos EUA ~US$ 150 bilhões
Orçamento da DEA 1973: ~$ 75 milhões Orçamento da DEA 2025: ~$ 3,1 bilhões
Custos totais da "guerra às drogas"
1973: ~US$ 100 milhões
2025: ~US$ 51 bilhões/ano (federal + estados)
Despesas acumuladas desde 1973: mais de um trilhão
Indústrias que cresceram em paralelo:
• Indústria de tratamento de dependência química: US$ 42 bilhões/ano
• Prisões privadas: US$ 5 bilhões/ano
• Testes de drogas: US$ 6 bilhões/ano
• Equipamentos e tecnologia para aplicação da lei: dezenas de bilhões
O número de usuários de drogas é várias vezes maior
Eficácia em termos da missão declarada: negativa. Eficácia em termos de criação de um ecossistema de indústrias dependentes: sem precedentes.
E então observamos o grupo de porta-aviões dos EUA se aproximando das costas do "narcoestado" da Venezuela.
Autor: Oleg Yasynsky