A COP30 em Belém do Pará revelou-se como o espelho mais nítido do esvaziamento global da agenda climática. Com uma presença significativamente reduzida de chefes de Estado e governo em comparação às edições anteriores, o evento confirmou as críticas sobre a falta de compromisso real com as questões ambientais.
Este distanciamento não representa negacionismo climático, mas sim uma rejeição racional a um sistema que transformou as conferências em palcos de promessas vazias, onde os verdadeiros responsáveis pela crise jamais enfrentam consequências reais.
A celebração oficial desta participação modesta contrasta violentamente com a alegada urgência climática. Especialmente quando os países do chamado Sul Global são os que mais preservam suas reservas, mas agora recebem uma lista interminável de leis e regras dos predadores de sempre, expondo a hipocrisia institucionalizada que transforma rituais diplomáticos em promessas vazias.
Os acordos sobre proteção de áreas tropicais, por exemplo, apresentados como salvaguardas ambientais, funcionam na prática como mecanismos sofisticados de controle territorial revestidos com a roupagem progressista da "salvação ambiental".
Países ocidentais, que historicamente devastaram seus próprios ecossistemas durante sua industrialização, agora se arvoram em guardiões morais das florestas tropicais, impondo condições que limitam drasticamente a soberania dos países em desenvolvimento.
Esta instrumentalização do discurso preservacionista constitui uma forma perversa de neocolonialismo ambiental, onde nações ricas determinam como os pobres devem gerir seus recursos naturais sem oferecer compensação justa pelo déficit ecológico acumulado. A agenda não defende genuinamente o meio ambiente, mas sim interesses geopolíticos disfarçados de preocupação ecológica.
A pressão pela implementação imediata da Rota Baku-Belém e seu mecanismo de créditos de carbono expõe a face mais predatória desta engenharia financeira global. O sistema proposto constitui uma troca assimétrica profundamente injusta: papéis financeiros especulativos e virtualmente sem valor real em troca de riquezas tangíveis e estratégicas dos países do chamado Sul Global – madeira, minérios, terras agricultáveis e água doce.
Este mecanismo permite que grandes corporações e países poluidores continuem suas atividades destrutivas, comprando licenças de poluição com papéis podres enquanto transferem a responsabilidade moral e financeira para as nações mais pobres.
A sofisticação desta fraude reside em transformar a destruição ambiental em commodity negociável, onde empresas que devastam florestas podem, através de contabilidade criativa, transformar pequenas áreas de preservação em créditos que lhes permitem continuar sua exploração predatória.
Os governos dos países tropicais tornaram-se cúmplices ativos deste processo de alienação territorial, liderados por elites intelectuais e burocráticas profundamente influenciadas por agendas de ONGs internacionais. Estas figuras, mais comprometidas com a aprovação de financiadores estrangeiros do que com as necessidades reais de suas populações, aceitam acriticamente modelos de conservação que criminalizam populações tradicionais e restringem o acesso a recursos essenciais.
A ironia trágica é que estes mesmos governos que se apresentam como defensores do meio ambiente frequentemente implementam políticas que despejam indígenas e comunidades ribeirinhas de suas terras ancestrais, em nome de projetos de exploração apresentados como preservação, a AMBIPAR é um exemplo vivo deste crime no Brasil.
A conivência de governos como o do Brasil não é resultado de ingenuidade, mas de uma escolha deliberada de servir a interesses estrangeiros em detrimento de seu próprio povo. Mesmo que todo o discurso político e trabalho de propaganda, através de uma imprensa vendida, afirmem o oposto.
A COP30 em Belém não representa uma oportunidade genuína para enfrentar a crise climática, mas sim um momento crítico onde se definirá se os países do chamado Sul Global continuarão aceitando passivamente seu papel de vítimas financiadoras de sua própria exploração.
A agenda ambiental global precisa ser radicalmente desconstruída e reconstruída a partir dos princípios de justiça climática, reparação histórica e soberania nacional sobre os recursos naturais. A pobreza e o abandono do Pará e dos paraenses são o reflexo do espelho quebrado desta rede de corrupção e hipocrisia entre os predadores e os traidores locais.
A solução verdadeira, contra a invasão da agenda fabricada pelos piratas de sempre, virá não dos governos coniventes, mas dos autênticos movimentos sociais, autênticos povos indígenas e autênticas comunidades tradicionais que entendem que a preservação ambiental genuína só pode existir quando aliada à justiça social e à soberania popular.
Questionar esta agenda hipócrita não é negacionismo ambiental, como afirmam os piratas, mas o primeiro passo necessário para construir uma verdadeira justiça ambiental global que não sirva aos interesses do capital especulativo e do neocolonialismo disfarçado de progresso ecológico.
Autor: Wellington Calasans – Jornalista, analista de política internacional e correspondente internacional da TPA – Televisão Pública de Angola
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