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Hamas 38 anos: a resistência não se rende e não desaparece
Hamas sintetiza a recusa coletiva palestina em aceitar a perda de sua terra, a profanação de seus locais sagrados e a destruição de sua vida social e política
Publicado em 18/12/2025 09:30
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O surgimento do Movimento de Resistência Palestino no curso da Primeira Intifada, há 38 anos, deve ser compreendido no contexto histórico de um processo contínuo de colonização, ocupação militar e negação sistemática de direitos ao povo palestino. 

Não se tratou de um episódio isolado nem de uma radicalização gratuita da luta de libertação, mas de uma mudança qualitativa na luta nacional palestina, de que um povo submetido ao apartheid sionista não aceita a submissão como destino, mas busca o histórico direito à liberdade, à terra e à dignidade.

O Hamas sintetiza a recusa coletiva em aceitar a perda de sua terra, a profanação de seus locais sagrados e a destruição de sua vida social e política, se afirmando cotidianamente como parte orgânica da luta de libertação nacional palestina, com um projeto político próprio e uma visão que ultrapassa o imediatismo militar. 

A luta pela libertação da Palestina jamais se limitou ao plano retórico ou simbólico. Ela se materializou como prática política concreta, forjada nos campos de refugiados, nas cidades sitiadas, sob bloqueios, bombardeios, prisões arbitrárias e a limpeza étnica imposta pela ocupação sionista.

A memória dos mártires ocupa um lugar central nessa trajetória. Não como exaltação abstrata da morte, mas como afirmação de que a ocupação israelense se sustenta pela violência extrema e que a resistência é a resposta inevitável à negação sistemática da vida do povo palestino. 

A extensa lista de palestinos mortos, feridos, presos e perseguidos desmonta a narrativa que teima apresentar a sua situação como um embate entre partes equivalentes. As batalhas travadas em toda a extensão da Palestina demonstram que não houve um único período de paz verdadeira sob a ocupação.

Desde sua fundação, o Hamas atuou em múltiplas frentes: no enfrentamento direto à agressão militar, na disputa política, na construção de uma consciência nacional de libertação e no combate às narrativas coloniais que buscam despolitizar a questão palestina. 

O Movimento se opôs de forma sistemática a todos os projetos que pretendiam liquidar a causa palestina por meio de acordos desiguais, processos de paz simulados ou iniciativas de “normalização” que ignoram a realidade da ocupação, apartheid e genocídio.

Sua presença na luta de libertação nacional marcou profundamente a história recente da Palestina, não apenas pela resistência armada, mas por sua capacidade de mobilização social, organização popular e enfrentamento simbólico ao discurso colonial que tenta reduzir a Palestina a um “problema humanitário”, apagando sua dimensão moral e política.

A fragmentação territorial, a existência de sistemas jurídicos distintos para populações diferentes, a segregação espacial, a transferência forçada de população e a negação sistemática de direitos políticos e civis não são acusações retóricas, mas fatos amplamente documentados por organizações internacionais de direitos humanos.

Apesar disso, a resposta da chamada “comunidade internacional” permanece marcada pela seletividade e pela hipocrisia, quando o direito internacional reconhece explicitamente o direito dos povos sob dominação colonial e ocupação estrangeira à autodeterminação e à resistência. 

No entanto, quando se trata da Palestina, esse direito é sistematicamente negado. A resistência palestina é criminalizada, enquanto o ocupante desfruta de impunidade, proteção diplomática e apoio militar das grandes potências.

Nesse cenário, não é um ideal abstrato, mas uma exigência estratégica. A fragmentação política e geográfica do povo palestino foi deliberadamente produzida como instrumento de dominação colonial. A continuidade da resistência não decorre de obstinação ideológica, mas de coerência histórica, moral e jurídica. 

Somente a unidade nacional palestina, com a convergência das energias nacionais, pode enfrentar um projeto colonial que se apoia no poder militar, no apoio imperialista e na cumplicidade internacional. 

Um povo privado de soberania, expulso de sua terra e submetido a um regime de apartheid não pode ser compelido a aceitar a injustiça como condição permanente. A libertação não é uma concessão do ocupante, mas um direito a ser realizado pelo povo oprimido. 

Trinta e oito anos depois, a mensagem do Hamas permanece clara e atual: a Palestina não foi derrotada, nem apagada. As ruínas de Gaza, o cerco às cidades e a expansão contínua dos assentamentos coloniais não demonstram o fracasso da resistência, mas expõem a brutalidade de um sistema colonial sustentado pela violência e pela omissão internacional. 

Enquanto houver ocupação, haverá resistência. Enquanto existir injustiça e apartheid, a luta pela libertação da Palestina seguirá sendo legítima, necessária e histórica. A história da Palestina é, acima de tudo, a história de um povo que se recusa a desaparecer.

 

 

Autor: Sayid Marcos Tenório - Historiador e Especialista em Relações Internacionais. É fundador e vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). Autor do livro Palestina: do mito da terra prometida à terra da resistência. Instagram/X: @soupalestina

 

 

Fonte: https://operamundi.uol.com.br/opiniao/hamas-38-anos-a-resistencia-nao-se-rende-e-nao-desaparece/

 

 

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