A arte da mentira tem na SIC dois dos seus principais artífices. Há uns dias, Nuno Rogeiro veio insinuar que o Hamas poderia ser responsável pelo acidente no elevador da Glória. Ontem, José Milhazes veio mentir, uma vez mais, de forma despudorada, sobre Pedro Tadeu e o seu livro. Começou num acto pleno de russofobia, povo que o acolheu durante tantos anos, acusando a sociedade russa, mais do que Putin, de ser responsável pelos ataques contra civis na Ucrânia. O mesmo que dizia em 2014 que "reduzir os ucranianos a nazis e fascistas é o mesmo que reduzir a Rússia a Vladimir Putin" veio dar mais uma cambalhota.
No seu estilo habitual de achismo e bazófia de quem acha que analisar geopolítica na televisão é a mesma coisa que conversar na taberna com amigos veio dizer que não há água em Donetsk por culpa da Rússia, alegando que os canos estão deteriorados e que a corrupção leva o dinheiro das obras necessárias. Vou ser muito claro porque eu próprio vivi na pele a falta de água durante meses nessa cidade enquanto jornalista. A responsabilidade da falta de água é da Ucrânia.
Kiev cortou o abastecimento de água a Donetsk bloqueando a rede de acesso através do canal Seversky-Donets-Donbass e depois destruiu-a. Fez o mesmo com estações de tratamento. Isso é crime de guerra. Entretanto, a Rússia construiu uma conduta a partir de Rostov com o objectivo de abastecer as zonas de guerra sem água e ainda assim isso não resolveu totalmente o problema. Tudo o que se possa dizer para lá disto é tentar lavar a Ucrânia dos crimes cometidos contra o abastecimento de água no Donbass.
Posteriormente, José Milhazes atacou, então, o livro de Pedro Tadeu por dizer que a Rússia invadiu a Ucrânia mas que o Ocidente ajudou a provocar essa reacção. Eu creio que todas as evidências apontam nesse sentido. É hipócrita fingir que o Ocidente se portou como um menino de coro e não financiou durante décadas vários partidos e organizações que posteriormente conduziram o país a um golpe de Estado e a uma guerra civil. Fingir que só a Rússia apoiou um dos lados é um exercício de hipocrisia que já poucos compram.
Simultaneamente, Milhazes vem mentir sem qualquer pudor sobre o jornalista basco-russo Pablo González. Diz que havia provas de que era agente russo e, no entanto, a acusação e os tribunais nunca as mostraram mantendo de forma escandalosa um repórter preso num país da União Europeia. Diz que Vladimir Putin apertou a mão de Pablo González quando foi libertado e que isso mostra que era um agente russo. Recordo que em troca do jornalista basco-russo, foi libertado um jornalista de nacionalidade russa e norte-americana, também acusado de espionagem por Moscovo. Evan Gershkovich, repórter do The Wall Street Journal, quando aterrou em Washington abraçou Joe Biden. É isso prova de que Evan Gershkovich era de facto um espião ao serviço dos Estados Unidos?
José Milhazes viveu tempo suficiente na Rússia para poder fazer análises profundas e cuidadas, sem ter com isso de simpatizar com Vladimir Putin. Prefere a mediocridade que lhe garante tempo de antena e venda de livros. É uma pena. Num tempo em que o vento sopra a favor dos medíocres, devemos saber navegar com cuidado para não nos enganarmos no caminho.
Autor: Bruno Carvalho in facebook