De “Li’l Marco” a secretário de Estado: uma transformação oportunista
Ascensão política na Flórida
Marco Rubio, nascido em Miami em 1971, filho de pais cubanos que emigraram em 1956 (antes da Revolução Cubana), construiu a sua carreira política explorando narrativas sobre as suas raízes cubanas. Desde o início da sua carreira como comissário de West Miami até presidente da Câmara dos Representantes da Flórida e, posteriormente, senador federal, Rubio aperfeiçoou a sua imagem de “exilado cubano”, embora os seus pais tenham abandonado a ilha durante o regime de Batista. Esta ambiguidade biográfica permitiu-lhe capitalizar o sentimento anticastrista da comunidade cubano-americana na Flórida.
A bajulação estratégica a Trump
Apesar de ter sido rival de Trump nas primárias republicanas de 2016 – quando o magnata o apelidou depreciativamente de “Li’l Marco” –, Rubio realizou uma transformação notável para ganhar a confiança do presidente. De acordo com análises políticas, Rubio “abandonou muitas das suas posições políticas anteriores” e “defendeu ruidosamente algumas das políticas mais duras de Trump” para consolidar a sua posição. Esta estratégia valeu-lhe não só o cargo de secretário de Estado, mas também o de conselheiro de segurança nacional interino, unindo dois cargos de enorme influência que não se concentravam numa única pessoa desde os tempos de Henry Kissinger.
A máquina anti-cubana: instrumentalização do poder estatal
Bloqueio reforçado contra Cuba
Rubio tem sido o principal impulsionador do recrudescimento do bloqueio económico contra Cuba, utilizando a sua influência no Departamento de Estado para implementar medidas que “reforçam a política de pressão máxima” contra a ilha. De acordo com denúncias do vice-ministro das Relações Exteriores de Cuba, Carlos Fernández de Cossío, Rubio responde a pressões de “sectores anti-cubanos que financiaram a sua carreira”, particularmente a família Bacardí, que “paga muito dinheiro pela agressão contra Cuba”.
Guerra contra a colaboração médica cubana
Uma das acções mais controversas de Rubio tem sido a sua campanha contra os programas de colaboração médica cubana, que há décadas prestam serviços de saúde em países em desenvolvimento. Em agosto de 2025, Rubio anunciou restrições de visto para funcionários de Cuba, países africanos e Granada por sua participação na contratação de serviços médicos cubanos. Ele acusou Cuba de impor “condições de trabalho coercivas” aos profissionais de saúde, uma narrativa que Havana negou categoricamente.
Uma análise cronológica das medidas de Rubio contra a cooperação médica cubana mostra que, em junho de 2025, foram impostas restrições de visto a funcionários centro-americanos; em agosto de 2025, essas restrições foram alargadas a Cuba, países africanos, Granada e Brasil e, nesse mesmo mês, foram impostas sanções a ex-dirigentes da Organização Pan-Americana da Saúde (OPS).
Narrativas falsas e fabricação de consenso
Rubio tem recorrido consistentemente à manipulação da informação para justificar as suas políticas. Como denunciou o presidente venezuelano Nicolás Maduro, “ninguém acredita nas mentiras” de Rubio, especialmente nas suas narrativas sobre o narcotráfico para justificar acções contra a Venezuela. Em setembro de 2025, Trump anunciou um “ataque letal” contra um navio que supostamente transportava drogas da Venezuela, mas nem ele nem Rubio apresentaram provas credíveis para sustentar essa acusação. Na verdade, o vídeo apresentado como prova foi questionado por analistas, que sugeriram que poderia ter sido criado por inteligência artificial.
A doutrina Rubio: Belicismo e submissão ao MAGA
Abandono de princípios anteriores
Rubio, que durante o seu mandato no Senado se apresentava como um falcão neoconservador, defensor de políticas duras contra ditaduras e dos direitos humanos, abandonou sistematicamente esses princípios para se alinhar com a agenda de Trump. De acordo com analistas citados pelo Politico, Rubio “eliminou muitos programas” de promoção da democracia e dos direitos humanos no exterior porque a base MAGA os considera “projectos liberais ‘woke'”.
Subordinação total ao poder executivo
Em uma demonstração de sua nova doutrina de submissão ao poder presidencial, Rubio declarou durante uma reunião de gabinete que nunca revelaria informações sobre deportações a juízes porque “a condução de nossa política externa pertence ao presidente dos Estados Unidos”, não ao poder judiciário. Essa postura representa um enfraquecimento perigoso dos controles e equilíbrios democráticos característicos do sistema político americano.
Implicações regionais: rumo a um continente mais instável
Venezuela na mira
A retórica agressiva de Rubio contra a Venezuela criou um clima perigoso de confronto na região. Maduro denunciou que “a máfia de Miami, comandada por Rubio” quer “manchar de sangue o sobrenome Trump” por meio de uma ameaça bélica no Caribe. O governo venezuelano mobilizou milhões de milicianos em preparação para uma “eventual agressão estrangeira”.
Diplomacia da coerção
Rubio transformou a diplomacia das sanções no principal instrumento da política externa dos Estados Unidos, aplicando punições económicas e restrições de visto de forma arbitrária contra funcionários de países que não se submetem às suas exigências. Esta abordagem gerou um mal-estar generalizado na região e prejudicou a imagem dos Estados Unidos como parceiro confiável.
Um legado em causa
Marco Rubio está a revelar-se uma das figuras mais prejudiciais da história recente da diplomacia norte-americana. A sua obsessão anti-cubana, o seu oportunismo político e a sua submissão incondicional a Donald Trump estão a conduzir os Estados Unidos a um crescente isolamento no continente americano e a um legado de confronto e instabilidade.
A comunidade internacional, especialmente a América Latina, observa com preocupação como Rubio instrumentaliza a política externa dos Estados Unidos para satisfazer agendas particulares de grupos de pressão anti-cubanos, enquanto “bajula o presidente Trump e o conduz a um legado desastroso” em matéria de relações internacionais.
Como bem resume o ministro das Relações Exteriores cubano Bruno Rodríguez: “Demonstra imposição e agressão com a força como nova doutrina de política externa desse governo”. Uma doutrina cujo principal arquitecto é Marco Rubio e cujas consequências podem ser catastróficas para a paz e a estabilidade regional.
Fonte e crédito da foto: https://cubasoberana.com/blog/marco-rubio-o-arquiteto-da-politica-anti-cubana-de-trump-e-o-seu-impacto-na-america-latina/