Por Isabel Seta
Edição: Marina Amaral, Agência Pública
Se em 2012, os movimentos não citavam guerras ou países específicos, neste ano, a declaração condena Israel pelo genocídio contra a Palestina e os Estados Unidos pelos recentes avanços contra a soberania dos países, sobretudo no mar do Caribe. “Nos solidarizamos à resistência da Venezuela, Cuba, Haiti, Equador, Panamá, Colômbia, El Salvador, República Democrática do Congo, Moçambique, Nigéria, Sudão e com os projetos de emancipação dos povos do Sahel, Nepal e de todo mundo”, diz a carta.
Os movimentos, porém, se posicionaram contra uma das grandes bandeiras do governo brasileiro, o Fundo Florestas Tropicais Para Sempre, criado para remunerar países de floresta tropical por cada hectare de floresta em pé. “Alertamos que o TFFF, sendo um programa financeirizado, não é uma resposta adequada”, diz o documento.
Na carta, eles condenam “falsas soluções” para a crise climática que repitam práticas de um modelo econômico que, na visão deles, é o causador principal das mudanças climáticas e demandam que todos os projetos financeiros estejam sujeitos a “critérios de transparência, acesso democrático, participação e benefício real para as populações afetadas”.
A preocupação ecoa a declaração final da Cúpula dos Povos realizada há 13 anos por ocasião da Conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, a Rio+20. Na época, movimentos sociais já se colocavam contra a “economia verde” como mais uma “fase de acumulação capitalista”.
Assim como na declaração de 13 atrás, a atual mantém a luta contra a privatização do que a Cúpula dos Povos de 2012 chamou de “bens comuns da humanidade”. “O ar, as florestas, as águas, as terras, os minérios e as fontes de energia não podem permanecer como propriedade privada, nem serem apropriados, porque são bens comuns dos povos”, diz a carta da Cúpula de 2025.
Já outros pontos, porém, mostram como o mundo e os movimentos sociais mudaram ao longo da última década. Com o fortalecimento dos movimentos de mulheres, indígenas e povos tradicionais, a declaração deste ano coloca o feminismo como “parte central do nosso projeto político” e exige, explicitamente, a demarcação de terras tradicionais e o reconhecimento de saberes ancestrais na construção de soluções climáticas.
Leia a Declaração da Cúpula dos Povos rumo a COP30, AQUI:
https://cupuladospovoscop30.org/declaracao-da-cupula-dos-povos-rumo-a-cop30/
Combate ao Racismo Ambiental, 17 de novembro de 2025:
https://racismoambiental.net.br/2025/11/17/cupula-dos-povos-reune-20-mil-e-apresenta-agenda-popular-para-a-cop30/