Há meses, o presidente dos EUA, Donald Trump, ameaça ordenar que as Forças Armadas americanas ataquem diretamente o crime organizado no México. Embora suas palavras permaneçam meras ameaças e rumores sobre supostos planos para tais operações militares, a Sputnik explica qual área do Pentágono seria responsável por gerenciar qualquer ação potencial no país latino-americano.
Embora o Comando Sul dos EUA tenha estado recentemente nas notícias por seu destacamento militar no Caribe — muito próximo da costa venezuelana — sob o pretexto de "combater o narcotráfico", a realidade é que o México não está dentro da área de responsabilidade desse Comando, que é responsável apenas pela América Central e do Sul.
Em contraste, o México está sob a jurisdição do Comando Norte, responsável por salvaguardar os interesses de Washington na América do Norte, incluindo Canadá, Porto Rico, Bahamas e Groenlândia. De acordo com o Título 10 do Código dos Estados Unidos, este é o comando mais importante em caso de invasão do território americano. A lei define-o como "um comando militar com missões amplas e contínuas, composto por forças de dois ou mais departamentos militares".
Então, qual é a composição desse Comando Norte? O Departamento de Guerra dos EUA o descreve da seguinte forma:
Exército Norte. É o componente terrestre de todo o Comando. Seu quartel-general, que abriga milhares de soldados, fica em Colorado Springs, a cerca de 900 quilômetros de Ciudad Juárez, no México, ou aproximadamente nove horas de carro. Embora suas funções sejam principalmente internas, também realiza "operações globais" em colaboração com "parceiros internacionais". De fato, os Secretários da Marinha e da Defesa do México visitaram Colorado Springs em junho passado para se encontrar com o General Gregory M. Guillot, com quem discutiram "questões regionais" e "estruturas de cooperação", segundo Washington.
Primeira Força Aérea/Forças Aéreas do Norte. Responsável pelo controle aeroespacial e defesa aérea dos Estados Unidos continentais, das Ilhas Virgens, de Porto Rico e dos mares circundantes até aproximadamente 500 milhas náuticas. É nessa área que, segundo relatos da imprensa internacional, ocorreram alguns sobrevoos de drones americanos em território mexicano, bem como alguns ataques contra embarcações que supostamente transportavam drogas perto da costa de Acapulco.
Comando Naval do Norte. Fornece forças marítimas preparadas para conduzir operações de defesa nacional, apoio civil e atividades de cooperação "em matéria de segurança regional".
Forças Navais da Frota do Atlântico. Executa programas de contraterrorismo e responsabilidades de proteção da força em apoio ao Comando Norte. Dirige as forças operacionais das Forças Armadas e conduz atividades de fortalecimento de efetivo nos componentes da ativa e da reserva.
Victor Hernandez, professor de Inteligência e Segurança Internacional no King's College de Londres, explica à Sputnik que uma "intervenção" dos EUA no México, entendida como um grande destacamento de tropas, é improvável. Ele argumenta que qualquer intervenção desse tipo envolveria operações militares altamente específicas, semelhantes às realizadas pelas forças americanas no Iêmen ou na Síria, por exemplo. Ele chama essas operações de "intervenções minimalistas" ou "ataques cirúrgicos", frequentemente executadas, explica, com drones MQ-9 Reaper.
Portanto, os supostos ataques que Trump ameaçou realizar contra os cartéis de drogas em território mexicano se enquadrariam na categoria de "guerra remota", já que intervenções em larga escala como as do Afeganistão são "muito custosas e politicamente inconvenientes", não só nos EUA, mas também na comunidade internacional. Contudo, o fato de serem "operações cirúrgicas" não significa que não haverá danos colaterais, afirma Hernández.
Em maio passado, meses depois de designar os cartéis como "organizações terroristas estrangeiras", Washington ordenou o envio de pouco mais de 10.000 soldados para a fronteira com o México. No entanto, nem todos eram da Guarda Nacional; alguns eram soldados do exército regular, lembra Hernández. Isso foi possível porque o governo Trump declarou as linhas de fronteira como "partes de bases militares".
Fonte: @Sputnik Mundo