Offline
MENU
A identidade e cultura estadunidense, geopolítica americana; Venezuela como ente de caráter dialético entre a modernidade e a tradição no continente
Publicado em 05/12/2025 16:30
Novidades

 

Por Camarada Valero

 

Os Estados Unidos não são uma nação no sentido tradicional. São, em essência, uma antinação: uma ordem política construída sobre a abstração do indivíduo de seu meio físico, humano e social. Seu fundamento não é uma cultura homogênea, um destino compartilhado ou uma memória histórica, mas o contrato social, o direito positivo e a primazia absoluta do mercado sobre as relações sociais. Essa maquinaria, produto do pensamento iluminista implícito em sua fundação como país, tem um efeito corrosivo: esvazia a esfera social de todo particularismo concreto, dissolve os laços orgânicos e substitui o sujeito histórico, enraizado em uma comunidade, pelo indivíduo atomizado — um cidadão universal que é, antes de tudo, um consumidor.

 

Essa lógica constitutiva não pode ficar restrita ao espaço doméstico. O expansionismo estadunidense representa sua fase terminal: a imposição global de sua própria ontologia. O “sonho americano” converte-se assim na ferramenta sociológica perfeita para um projeto de dessubstanciação identitária; que não se limita à dominação econômica ou militar, mas busca colonizar categorias existenciais. Substitui o “nós” herdado pelo “eu” consumidor; a lealdade orgânica pelo contrato; a honra pela ética do sucesso material. Sua meta final é clara: transformar povos em mercados, tradições em folclore e cidadãos em clientes — tudo operando de forma a submeter qualquer expressão de identidade e convertê-la em objeto mercantil.

 

Diante desse projeto universalizante e dissolvente, a Hispano-América — não apenas como categoria geográfica que engloba nossos países e culturas, mas como trincheira civilizatória — deve ser compreendida dessa maneira. Nossas sociedades foram edificadas sobre premissas opostas: a comunidade precede o contrato e a usura; a tradição, a “liberdade positiva” que conduz ao cosmopolitismo; e a honra, o cálculo mercantil. Por isso, cada gesto de preservação de nossa hispanidade (essa síntese única do espanhol e do indoamericano) é um ato de sabotagem metapolítico. Defender nossa forma de vida e nossas heranças culturais — e, por consequência, políticas — é demonstrar que não há necessidade de nos submetermos à visão anglo-saxã decadente, pois dentro de nós mesmos e desde nossa própria terra temos a solução para as contradições que persistem na sociedade.

 

Nesse combate, a Venezuela, no século XXI, ergueu-se como a encarnação mais radical da resistência. A Revolução Bolivariana, para além de suas dimensões políticas imediatas, representa a mobilização do substrato popular e histórico contra a oligarquia que executava o programa de subordinação global. Onde o modelo pan-americano anglófilo postula o indivíduo abstrato, a Venezuela responde com a comunidade concreta: a comuna, o bairro organizado. Sua aliança com potências como China, Rússia e Irã não é meramente tática; é uma aliança civilizatória entre aqueles que defendem seu próprio substrato cultural contra a máquina homogeneizadora.

 

 

Fonte: https://open.substack.com/pub/songunbolivariano/p/el-comportamiento-existencial-y-la?utm_source=share&utm_medium=android&r=6g7918

Comentários