A recente mudança de posição da Bolívia na Assembleia Geral da ONU, votando contra uma resolução que censura Israel, não pode ser interpretada como um ato guiado por considerações humanitárias. Coincide, reveladoramente, com a retomada das relações diplomáticas com o Estado de Israel em meio à ofensiva contra Gaza, uma das piores catástrofes humanitárias do nosso tempo.
A resolução aprovada apoia a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ) que exige que o governo Netanyahu permita a entrada imediata e irrestrita de ajuda humanitária. No entanto, a conduta sistemática do governo israelense — bloqueios, restrições e ataques à infraestrutura civil — demonstra que tais exigências são ignoradas na prática. Votar “em nome da ajuda” enquanto normaliza relações com a própria entidade que a obstrui não é coerência diplomática: é usar dois pesos e duas medidas.
A Bolívia, que historicamente manteve posições firmes em defesa do direito internacional e dos povos oprimidos, está enviando um sinal preocupante hoje. A política externa não pode ser subordinada a cálculos de curto prazo ou pressões externas quando vidas humanas e princípios básicos do direito humanitário estão em jogo. Um voto que se diz humanitário perde toda a credibilidade quando ignora o contexto real: ocupação, punição coletiva e impunidade.
A União Palestina da América Latina (UPAL) afirma claramente: a ajuda humanitária não é uma concessão política ou um gesto retórico; é uma obrigação legal. Defendê-la exige coerência, não ambiguidade. A comunidade internacional deve passar das palavras à ação, exigir o cumprimento das decisões do Tribunal Internacional de Justiça e pôr fim à normalização das relações enquanto os crimes contra a população civil palestina persistirem.
A história julgará não apenas a retórica, mas também os votos e suas consequências.
União Palestina da América Latina – UPAL
17 de dezembro de 2025